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Pessoas de Papel


"Todas aquelas pessoas de papel vivendo em suas casas de papel, queimando o futuro para ficar quente. Todas as crianças de papel bebendo cerveja que algum vagabundo comprou para elas em uma loja de conveniência de papel. Todo mundo demente com a mania de possuir coisas. Todas as coisas, coisas de papel, papel frágil e todas as pessoas, também. Eu tenho vivido aqui por 18 anos e eu nunca, nenhuma vez na minha vida, me deparei com alguém que se preocupa com tudo o que importa" - Cidades de Papel

De acordo com John Green, vivemos em uma cidade lotada, cheia de gente vazia. Minha intenção não é dizer como amei ler esse livro e nem fazer propaganda dele. Porém, aprendi muito lendo-o, além disso, ainda reforçou minhas opiniões a respeito do mundo em que vivemos e me identifiquei muitíssimo com o mesmo. Achei o momento propício para também falar sobre pessoas de papel, já que todos estão falando a respeito do filme que acabou de estrear em nossos cinemas. O nosso mundo se tornou um mundo de papel. Um lugar onde as pessoas não se importam com o essencial e sim apenas com a aparência. Gente linda por fora, mas sem nada por dentro.

Pessoas que nos enganam com seus encantos, mas que ao nos aproximarmos delas, nos mostram que, na realidade, não passavam de feitiços. Como diz a própria personagem Margo: "Nada é bonito de perto". Quem já andou de avião sabe como toda aquela bagunça que chamamos de cidade fica magnifica de longe. Com suas luzes a baixo de nós e seus carrinhos "de brinquedo" correndo de um lado para o outro. Não vemos o mal, não sentimos a poluição, não tememos o perigo, muito menos vemos o vazio. Enxergamos pessoas sorrindo, bonitas que demonstram ser amigas leais, mas que, na verdade, nos contaminam com as suas infelicidades, as quais acabamos transmitindo para outros. Acreditamos que todos são conforme mostram ser, e no fim, saímos chateados e frustrados com quem encontramos. "Só tenha em mente que às vezes o jeito como a gente pensa em alguém não é exatamente o jeito como essa pessoa é […] As pessoas são diferentes quando você sente o cheiro delas e as vê de perto, entendeu?"

No final, em vez de agirmos de modo divergente, acabamos nos tornando iguais a esses. Viramos, também, frios e vazios, apenas esperando que as pessoas vêm somente o que mostramos e nada mais. Criamos medo de mostrar quem somos e os outros perceberem nossas imensas falhas e fraquezas.

Já vi muito isso na minha pequena e jovem vida: pessoas que não choram, que não se afetam por nada e que não se abalam. Parece gente forte, talvez até ao extremo e que nunca se quebram. O vento não as levam e, aparentemente, são elas quem mandam em suas vidas. Contudo, o lance é o seguinte: pessoas de papel são basicamente nada do que elas demonstram ser! O papel rasga, molha, queima e assim, se acaba. O papel é muito leve, tão leve que o vento o leva para aonde bem quiser.

A vida quase nunca vai na direção que queremos, é verdade, entretanto, as pessoas de papel não têm a mínima chance de mandar nela. Elas só aparentam ter poder. Só aparentam ser fortes, demonstram ter o mundo nas mãos e o poder de mudar o que elas bem entenderem. Mas não. Pessoas de papel não conseguem fazer nada disso.

Eu fui uma menina de papel. Me achava forte por não chorar, por não demonstrar grandes sentimentos. Fui uma menina com tantos problemas quanto qualquer outra pessoa normal, mas que os escondia para aparentar ser algo a mais do que era. Algo a mais que, simplesmente, descoloria um pouco mais o mundo.

"Uma cidade de papel para uma menina de papel […] Eu olhava para baixo e pensava que ela era feita de papel. Eu é que era uma pessoa frágil e dobrável, e não os outros. E o lance é o seguinte: as pessoas adoram a ideia de uma menina de papel. Sempre adoraram. E o pior é que eu também adorava. Eu tinha cultivado aquilo, entende? Porque é o máximo ser uma ideia que agrada a todos. Mas eu nunca poderia ser aquela ideia para mim, não totalmente."

Eu já fui observada como a Margo. Tinha que manter pose para tudo, não podia ser menos do que esperavam de mim e assim a minha vida se tornou sem graça como o resto do mundo.

Ao se colocar um espelho vi um mundo doente. Mais do que isso, vi uma menina doente. Alguém que achava que o importante era estar bem por fora sem importar se estava caindo aos pedaços por dentro.

Pessoas de papel são mais vulneráveis do que pessoas normais. Elas não são de verdade, não colorem a vida, não carregam a felicidade. Pessoas de papel não mudam o mundo, elas o tornam pior.

Um mundo que carece de sentimentos não expressados, que carece de uma beleza interior, um lugar que necessita que outros ao chegarem perto, o achem bonito e não frívolo, não precisa de pessoas que são carregadas por qualquer ventinho que a vida sopra. Não precisa de pessoas que fingem ser o que não são.

Se somente uma mão de verdade pode colorir um mundo de papel (e quem sabe, torna-lo real), então o que ele precisa é de pessoas de verdade e não de gente como ele!

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