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A Caixa de Brinquedos


- Querida, essas bonecas podem ser doadas? Você não brinca com elas a séculos! – Com toda certeza, se você é uma menina, já ouviu isso antes. Então você larga o teu novo brinquedo, corre em direção a aquelas bonecas que até empoeiradas estão e clama:

- Não mamãe, não. Eu ainda brinco sim! – Se for necessário, até rola um chorinho, mas assim que a mãe dá sai de cena, você retorna à nova boneca e deixa as outras empoeirando novamente, até ganhar um brinquedo novo e também esquecer da presente. Vai dizer que estou mentindo?

Quantas vezes você já se sentiu a sensação do momento para alguém e de repente foi esquecido(a) no canto a empoeirar? Inúmeras, não é? Pelo menos eu já passei por isso muitas e muitas vezes. Sinceramente, desde quando começaram os flertizinhos na escola, sempre detestei que me chamassem de boneca. A palavra boneca me soava como um tipo de assédio, sei lá porque, mas parecia que eu era impotente, frágil e dependente (ah, como eu odeio me sentir dependente) ao ser comparada com uma. Automaticamente, parece que tenho a sensação de que alguém está colocando cordas em mim e me manipulando, porque é isso que se faz com brinquedos. NÃO SOU UMA BONECA!

Hoje eu entendo que essa rejeição toda que tinha quando se referiam a minha pessoa como boneca, lá no fundo, era porque eu sabia que bonecas são largadas no canto depois que chega uma nova. Eu morria de medo de me tornar igual aos meus brinquedos e um dia ser colocada no canto para ser enchida de teias de aranhas.

No entanto, será que eu nunca fiz isso como ninguém? Hoje sou uma pessoa mais madura com meus quase 21 anos. Porém eu sei que não fui uma adolescente muito amável. Será que você nunca esqueceu ninguém nesse vai e vem da vida que não merecia ser deixado de lado? Não sei se já notou, mas as vezes, aliás, quase sempre, os nossos medos refletem quem somos e o que fazemos.

Na realidade, o mundo está cheio disso. Todo mundo enxerga todo mundo como um tipo de brinquedo, como algo que é lindo e maravilhoso hoje, mas que pode ser facilmente colocado no canto depois que cansar.

O pior de tudo é que a gente, além de fazer essas crueldades, não queremos lidar com as pessoas, mas também não queremos deixa-las livres. Não deixamos outros se aproximarem dos nossos “brinquedos”. Queremos eles ali de reserva, de enfeite, para sempre. Porque “eu vou sentir falta”. Porque “é meu”. Porque “NÃO! ”.

Não sou uma boneca, nem você, nem o próximo. Está na hora de perceber que todos são interessantes e todos merecem atenção. Ninguém foi feito para ficar no canto. Está na hora de lembrar que todo mundo tem coração, o qual pode ser facilmente quebrado, que todo mundo tem sentimentos, que todo mundo respira e que todo mundo pensa e tem seus próprios desejos que não deveriam ser manipulados.

Está na hora de ver que o mundo é muito mais do que uma caixa de brinquedos.

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